Banco americano reforça posição overweight no Brasil, destacando atratividade do mercado nacional em meio a incertezas globais e recuperação econômica
O mercado de ações brasileiro, representado pela B3, tem experimentado um influxo significativo de capital estrangeiro nos últimos dois meses, contrastando com o movimento de venda registrado no primeiro semestre de 2024. Segundo um relatório recente do Morgan Stanley, um dos maiores bancos de investimento do mundo, investidores estrangeiros adquiriram R$ 3,6 bilhões em ações brasileiras durante o mês de julho e aumentaram essa cifra em R$ 7,0 bilhões até o momento em agosto. Apenas na semana de 15 a 21 de agosto, as compras líquidas de estrangeiros somaram R$ 4,3 bilhões, demonstrando um crescente interesse pelo mercado brasileiro.
O Morgan Stanley aponta que a possibilidade de um “pouso suave” na economia dos Estados Unidos — uma desaceleração econômica moderada que evita uma recessão profunda — pode atrair ainda mais fluxos de capital estrangeiro para o Brasil. A expectativa do banco é de que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, possa iniciar um ciclo de cortes nas taxas de juros a partir de setembro, o que poderia beneficiar mercados emergentes como o Brasil. Essa expectativa foi reforçada pelas atas do FOMC (Federal Open Market Committee) divulgadas em 21 de agosto, que sugerem uma maior disposição para começar a afrouxar a política monetária na próxima reunião do comitê.
Essa perspectiva favorável se alinha com a estratégia do Morgan Stanley de manter uma exposição overweight (acima da média) no Brasil, dentro dos portfólios de investidores globais de mercados emergentes (GEM). A posição overweight reflete a confiança do banco no potencial de valorização do mercado brasileiro, especialmente em um cenário onde investidores estão realocando suas posições, reduzindo a exposição em países como China e México.
Brasil Destaca-se Entre os Mercados Emergentes
Atualmente, o Brasil é a maior posição overweight do Morgan Stanley entre os mercados emergentes, com uma alocação cerca de 2 pontos percentuais acima da média dos fundos GEM. Historicamente, o México ocupava a segunda posição entre as alocações preferidas desses fundos, mas perdeu esse lugar para a Coreia do Sul no final de junho. Essa mudança reflete as crescentes preocupações com o ambiente político e econômico no México, onde a proposta de uma reforma judicial pelo Executivo tem aumentado os riscos e limitado o investimento de capital (capex) no país.
Em contraste, o Morgan Stanley reitera que as ações brasileiras continuam apresentando um valuation atrativo. O banco observa que o mercado brasileiro está negociando a 8,9 vezes os lucros futuros consensuais, um valor que representa um desvio-padrão de -1,2 abaixo da média histórica de 14 anos, que é de 11,7 vezes. O grupo de ações domésticas, por sua vez, negocia a 10,8 vezes os lucros futuros, o que também está abaixo da média histórica, com um desvio-padrão de -0,9.
Fluxo de Capital e Perspectivas
A Genial Investimentos destaca que, na semana de 15 a 21 de agosto, o mercado de ações brasileiro registrou uma entrada substancial de capital estrangeiro, reduzindo a saída acumulada de 2024 para R$ 29,9 bilhões. Esse movimento é parcialmente atribuído à expectativa de queda nas taxas de juros nos EUA, combinada com uma redução dos ruídos em torno da condução da política fiscal no Brasil.
No entanto, nem todos os investidores estão aumentando sua exposição ao mercado brasileiro. Investidores institucionais, por exemplo, retiraram R$ 4,4 bilhões em agosto, enquanto os investidores pessoa física venderam R$ 2,1 bilhões no mesmo período. A saída acumulada de investidores institucionais no ano já soma R$ 16,3 bilhões, com um saldo negativo de R$ 11,4 bilhões apenas em agosto. Para os investidores pessoa física, o saldo acumulado no ano está positivo em R$ 20,3 bilhões, mas com uma saída de R$ 3,2 bilhões em agosto. Caso essa tendência de venda continue, pode representar a primeira retirada líquida de capital de investidores pessoa física desde dezembro do ano passado, justamente quando o mercado de ações brasileiro busca alcançar sua máxima histórica.
O mercado brasileiro continua a ser um destino atraente para o capital estrangeiro, especialmente em um cenário de incerteza global onde o Brasil se destaca entre os mercados emergentes. A perspectiva de um “pouso suave” nos EUA, aliada a valuations atrativos e à redução de riscos fiscais internos, pode continuar a atrair fluxos significativos de investidores estrangeiros para a B3. No entanto, a continuidade desse movimento dependerá não apenas das condições macroeconômicas globais, mas também das políticas internas e da confiança dos investidores locais no mercado brasileiro.