O forte crescimento da comunidade brasileira em Portugal, que quadruplicou em 10 anos, está provocando um interesse crescente de instituições financeiras do Brasil pelo mercado português. No entanto, os bancos brasileiros enfrentam barreiras enormes para entrar em Portugal, incluindo exigências regulatórias elevadas e preconceitos culturais.
Banco Master investe em banco português, mas é impedido de assumir controle
Um dos casos mais ilustrativos desse complicado processo envolve o Banco Master. Há dois anos, a instituição assumiu o controle do Banco BNI Europa, que pertencia a angolanos. Para isso, injetou 8 milhões de euros (R$ 44 milhões) de capital, o que permitiu o saneamento das contas, que voltaram ao azul.
Agora, por imposição do Banco de Portugal, o Master teve de desligar todos os diretores brasileiros do BNI, cujos nomes não foram aprovados pelo regulador, assim como a efetivação da troca de controle acionário. O jeito foi desistir do negócio.
“Essa decisão do Banco de Portugal saiu dois anos depois da autorização dada pela instituição para a capitalização do BNI. É muito estranho que somente os executivos brasileiros tenham sido rejeitados como administradores. Nenhum português foi vetado”, diz uma fonte com conhecimento do assunto.
“Estamos vendo essa decisão do regulador português como reserva de mercado. Mas, também, não descartamos a xenofobia”, acrescenta.
Vários bancos enfrentam dificuldades
Além do Banco Master, outros bancos brasileiros, como o Itaú BBA, o Bradesco e o BTG Pactual, têm enfrentado dificuldades para entrar em Portugal. Essas instituições atuam em nichos muito específicos, como administração de grandes fortunas e operações de comércio exterior.
Um estudo realizado pelo Centro de Estudos Internacionais (CEI) da Universidade Nova de Lisboa, publicado em 2023, aponta que as exigências regulatórias impostas pelo Banco de Portugal são justificadas por preocupações com a estabilidade do sistema financeiro português.
No entanto, o estudo também afirma que essas exigências são “muito elevadas e complexas”, o que dificulta a entrada de novos players no mercado.
O estudo também aponta que há, de fato, um certo grau de preconceito cultural contra os bancos brasileiros em Portugal. Segundo o estudo, os bancos portugueses têm uma “cultura de exclusividade”, que dificulta o acesso de instituições estrangeiras.
Diante desse cenário, é possível que os bancos brasileiros continuem a enfrentar dificuldades para entrar no mercado português. No entanto, o crescimento da comunidade brasileira no país europeu oferece uma oportunidade significativa para essas instituições.